Todo cristão quer ter uma vida espiritual saudável e um relacionamento íntimo com Deus.
Porém, comumente, nos conformamos com a nossa conversão e tratamos o “crer em Jesus” como um fim em si mesmo.
Confessamos Jesus Cristo como nosso Senhor e salvador, passamos a frequentar a igreja aos domingos e a ter uma vida um pouco melhor moralmente.
Mas esse não deve ser o resultado da nossa conversão e caminhada com o Senhor.
Uma das virtudes mais importantes para a maturidade cristã é entender a necessidade da nossa santificação e do nosso crescimento espiritual.
Não importa o quão maduro somos e o tempo de convertido que temos, nunca somos tão santos como deveríamos ser, sempre podemos (e precisamos) aprender e melhorar em nossa caminhada.
É aqui que entram as chamadas Disciplinas Espirituais, também chamadas de Meios da Graça. Que são formas de desenvolvermos a nossa espiritualidade cristã.
Vamos entender melhor a sua importância e quais são as disciplinas espirituais que todo cristão precisa colocar em prática.
O que são disciplinas espirituais?
As disciplinas espirituais são maneiras comuns e diárias que Deus nos deixou para experimentarmos os benefícios do sacrifício de Cristo, ou seja, é a forma de desfrutarmos um relacionamento pleno com o Senhor e desenvolver a nossa vida espiritual.
Sem os meios da graça, jamais nos tornaremos Cristão maduros. É preciso buscarmos relacionamento com Deus para sermos moldados por Ele.
O Apóstolo Tiago nos alerta que “a fé sem obras está morta” (Tg 2.17 ) e Jesus nos ensina que a árvore é reconhecida pelo seu fruto (Mt 7.20).
Uma fé verdadeira, a salvação plena, precisa levar o Cristão a desenvolver a sua santidade e ansiar viver uma vida que imite a Jesus Cristo (1Co 11.1).
Por isso as disciplinas espirituais são tão importantes.
É necessário destacar também que as disciplinas em si não podem gerar vida espiritual, embora sejam auxílios importantes, e nem devem ser uma forma do Cristão se justificar perante o Senhor.
O fato de praticá-las não nos torna mais dignos das bençãos do Senhor.
Não devemos também praticar os meios da graça como se fossem uma obrigação, uma penitência. Como Filhos de Deus, precisamos ter prazer em sua presença e em desenvolvermos a nossa Santidade, buscando um relacionamento íntimo e uma vida pura e de adoração ao Pai.
Vamos ver então quais são os meios da graça e como colocá-los em prática!
As Disciplinas Espirituais (meios da graça)
Vamos pontuar agora cada uma dessas disciplinas espirituais e entender a importância de cada uma delas em si.
É importante notar que são poucas as disciplinas que de fato são indispensáveis para a vida do Cristão, embora todas elas sejam recomendáveis e deveriam ser praticadas por um Filho de Deus que busca desenvolver sua espiritualidade cristã.
Leitura da Palavra
“Ninguém despreze a tua mocidade; pelo contrário, torna-te padrão dos fiéis, na palavra, no procedimento, no amor, na fé, na pureza.
“Até à minha chegada, aplica-te à leitura, à exortação, ao ensino.” (1 Tm 4:12,13)
“Procura apresentar-te a Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade.” (2Tm 2.15)
“…mas o que se gloriar, glorie-se nisto: em me conhecer e saber que eu sou o Senhor…” (Jr 9.24)
É impossível amar uma pessoa que não conhecemos. Deus escolheu se revelar à humanidade por meio da Sua Palavra.
Portanto, é absolutamente contraditório dizer que amamos a Deus se não amamos a sua Palavra.
Precisamos ter fome e sede de conhecer quem Deus é e conhecer as suas escrituras. É impossível ter um relacionamento íntimo com alguém que não conhecemos, por isso precisamos gastar tempo com as Escrituras.
Essa leitura não deve ser superficial e não é como se estivéssemos lendo um livro qualquer.
É preciso ter a convicção de que quando abrimos as páginas da Bíblia não estamos lendo um Livro, mas conhecendo uma Pessoa.
É impossível ouvir a voz de Deus, se não lermos a sua Palavra.
Oração
“Pedi, e dar-se-vos-á; buscai e achareis; batei, e abrir-se-vos-á.” (Mt 7.7)
“Buscar-me-eis e me achareis quando me buscardes de todo o vosso coração.” (Jr 29.13)
“Não andeis ansiosos de coisa alguma; em tudo, porém, sejam conhecidas, diante de Deus, as vossas petições, pela oração e pela súplica, com ações de graças.” (Fp 4.6)
Assim como a leitura das Sagradas Escrituras, a Oração é uma das disciplinas espirituais indispensáveis para qualquer cristão. A sua espiritualidade será tão desenvolvida quanto a sua vida de oração.
A oração é o principal meio que o cristão cultiva o seu relacionamento com Deus.
É uma comunhão espiritual pela qual transmitimos nossas ações de graça, nossa adoração, nossas súplicas, nossas intercessões, nossas petições e nossas confissões de pecado a Deus.
A oração é como uma conversa face a face com Deus, ela nos conecta a Ele, nos aproxima dEle, torna nosso relacionamento com o Pai mais íntimo e pessoal e, também, nos ajuda a lidar com nossas ansiedades, angústias e a viver uma vida de dependência dEle.
A oração não muda a Deus, mas muda o cristão.
Quanto mais tempo gastamos na presença do Pai em oração, mais somos moldados pelo seu Espírito Santo e a cada dia nossas orações ficam mais alinhadas ao coração do Pai e o nosso coração mais alinhado com a Sua vontade.
Meditação
“Medita estas coisas e nelas sê diligente, para que o teu progresso a todos seja manifesto.” (1Tm 4:15)
“As palavras dos meus lábios e o meditar do meu coração sejam agradáveis na tua presença, Senhor, rocha minha e redentor meu!” (Sl 19:14)
A meditação está diretamente relacionada à leitura da Palavra.
A meditação diz respeito a alimentar e exercitar a nossa mente com as coisas do Senhor. Refletir naquilo que lemos e aprendemos a respeito de Cristo, sondar nossos corações e trazer tudo aquilo é verdadeiro, puro e amável à nossa mente. (Fp 4.8)
A meditação é o que nos ajuda a guardar a Palavra de Deus em nosso coração, não apenas como uma leitura superficial, mas um conteúdo que nos confronta, nos molda e nos edifica.
Precisamos meditar a respeito da pessoa e obra de Cristo, do nosso procedimento como cristãos, do nosso papel na missão de Deus.
Essa disciplina é muito importante para compreendermos e amarmos as verdades a respeito do Senhor, conduzindo-nos à maturidade espiritual.
*Não deixe de conferir nosso post sobre a importância do Sola Scriptura.
Jejum
“Quanto a mim, porém, estando eles enfermos, as minhas vestes eram pano de saco; eu afligia a minha alma com jejum e em oração me reclinava sobre o peito” (Sl 35:13)
“Tu, porém, quando jejuares, unge a cabeça e lava o rosto, com o fim de não parecer aos homens que jejuas, e sim ao teu Pai, em secreto; e teu Pai, que vê em secreto, te recompensará.” (Mt 6:17-18)
Ao ensinar a viver uma vida de justiça (uma vida de piedade) Jesus inclui o jejum, junto a oração e à caridade, como as práticas que expressariam a nossa fé e devoção a Deus.
O jejum era uma prática muito comum para os judeus desde os tempos do antigo testamento. Ele consiste na abstinência voluntária de alimentos e às vezes também de água, por um dia ou muitos.
O jejum é sempre acompanhado de oração, o alvo do jejum é buscar a Deus. O seu objetivo é quebrantar o corpo e consequentemente nossa alma (Sl 35:13).
Nas Escrituras vemos o jejum sendo prática em diferentes situações:
- Arrependimento e quebrantamento por conta dos pecados e transgressões (Jn 3:5-10)
- Tempos de angústia e calamidades (fome, seca, doença)
- Desejo intenso pela resposta de Deus (Et 4:16)
O jejum não dá nenhum mérito ao cristão, mas deve ser feito com o objetivo de quebramento e de se aproximar do Senhor. Sem oração e sem quebrantamento, o jejum é vão.
Ele deve ser feito de forma discreta, sem a intenção de parecer mais espiritual ou mais religioso, como faziam os fariseus.
Embora não seja uma prática tão regular quanto a oração e a leitura da palavra, o jejum é uma disciplina importante no crescimento espiritual e pode ser praticado individualmente e coletivamente.
Caridade
“Tu, porém, ao dares a esmola, ignore a tua mão esquerda o que faz a tua mão direita; para que a tua esmola fique em secreto; e teu Pai, que vê em secreto, te recompensará.” (Mt 6:3-4)
“A religião pura e sem mácula, para com o nosso Deus e Pai, é esta: visitar os órfãos e as viúvas nas suas tribulações e a si mesmo guardar-se incontaminado do mundo.” (Tg 1.27)
Desde o antigo testamento, o Deus de Israel se apresenta como o Deus que “faz justiça ao órfão e à viúva e ama o estrangeiro” (Dt 10:18).
É da natureza do nosso Senhor cuidar daqueles que sofrem injustiça.
Praticar a justiça e a misericórdia deve fazer parte da natureza do cristão, como o apóstolo Tiago exorta em sua carta.
Uma das formas de experimentarmos a graça do Senhor é quando, por meio dEle, podemos abrir mão de nós em amor ao próximo.
A caridade gera desprendimento e nos ajuda a alcançar uma maturidade espiritual cada vez maior, sendo expressões da nossa confiança do cuidado dele conosco e do amor ao próximo.
Nenhuma uma criatura feita à imagem e semelhança de Deus deveria passar necessidades básicas e, como igreja, devemos lutar para que isso não aconteça.
Apesar da caridade não ser um meio da graça focado no crescimento pessoal, amar ao próximo e praticar a justiça, como o Senhor nos pede (Ml 6:8), desenvolve a nossa espiritualidade e nos faz mais parecidos com cristo.
Confissão
“Confessai, pois, os vossos pecados uns aos outros e orai uns pelos outros, para serdes curados. Muito pode, por sua eficácia, a súplica do justo.” (Tg 5.16)
“Se afirmarmos que estamos sem pecado, enganamos a nós mesmos, e a verdade não está em nós. Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para perdoar os nossos pecados e nos purificar de toda injustiça.” (1 Jo 1:8-9)
A confissão de pecados é provavelmente a disciplina espiritual mais difícil de praticarmos, porque envolve quebrar o nosso orgulho.
A confissão de pecados é necessária e deve ser feita a Deus e também a irmãos de maior confiança.
É um passo importante para o arrependimento genuíno pois mostra o nosso desejo de não cair novamente e o reconhecimento de nossa incapacidade de vencermos sozinhos.
As Escrituras nos ensinam que quem esconde o seu pecado não prospera, mas “quem os confessa e os abandona encontra misericórdia.” (Pv 28:13).
A falta de confissão é fruto do nosso orgulho ou um desejo de permanecer naquele pecado.
Quando confessamos um pecado reconhecemos o quão carente somos da Graça e como não queremos viver de aparências, quebrando o nosso orgulho.
Além disso, quando confessamos uns aos outros contamos com o conselho de um irmão e com as suas orações, que possuem eficácia (Tg 5:16).
Adoração
“… mas enchei-vos do Espírito, falando entre vós com salmos, entoando e louvando de coração com hinos e cânticos espirituais…” (Ef 5:18-19)
“Louvai ao Senhor, porque é bom e amável cantar louvores ao nosso Deus; fica-lhe bem o cântico de louvor.” (Sl 147:1)
A vida do cristão, por si só, deve ser um ato de adoração constante ao Senhor. Tudo o que vivemos e fazemos deve glorificar ao nosso Senhor.
Porém, é fundamental reservamos momentos focados apenas em contemplar a sua glória e lhe render palavras de adoração com salmos, hinos, cânticos e ações de graças.
A adoração e os louvores são a reação natural do cristão ao conhecer e compreender quem Deus é.
Quanto mais conhecemos a beleza da Santidade do nosso Senhor, compreendemos o sacrifício de Cristo na cruz e o amor de Deus, maior deve ser a nossa devoção.
Adorar a Deus é reconhecer quem Deus é, exaltar o seu ser e prestar honra ao único que é digno.
Comunhão
“Consideremo-nos também uns aos outros, para nos estimularmos ao amor e às boas obras. Não deixemos de congregar-nos, como é costume de alguns; antes, façamos admoestações e tanto mais quanto vedes que o Dia se aproxima.” (Hb 10:24-25)
“Porque, onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, ali estou no meio deles.” (Mt 18:20)
A Comunhão é uma disciplina que não é opcional. Todo cristão precisa congregar e caminhar juntos com outros irmãos.
Na comunhão crescemos e aprendemos, além de engajarmos, como corpo, em atividades comuns da igreja com a adoração, estudo, oração, serviço etc.
Em comunhão expressamos e desfrutamos da presença e manifestação de Deus de forma mais plena do que individualmente.
Afinal, somos “membros de um só corpo” (1Co 12:27) e “pedras que vivem” e formam o templo, cuja pedra angular é Cristo (1Pe 2:5-7).
Somos partes de um todo, um membro nada pode fazer se está fora do corpo.
É na comunhão com os santos que os dons espirituais fluem e somos usados por Deus. Cada membro tem sua função no corpo e apenas juntos, cumpriremos nosso papel. Afinal, os dons espirituais são dados para a edificação do corpo.
É somente,também, na comunhão com os irmãos que encontramos amizades preciosas que nos levam para mais perto do Senhor.
Quando nossas sinceras amizades são nossos irmãos, somos levados a fluir em amor e nas boas obras, além de sermos confrontados e encorajados quando necessário.
O conselho de um irmão é mais precioso do que de um não cristão, por ser baseado em valores bíblicos e evitar o “jugo desigual” (2Co 6:14).
Culto Público
“Não deixemos de congregar-nos, como é costume de alguns; antes, façamos admoestações e tanto mais quanto vedes que o Dia se aproxima.” (Hb 10:25)
“E clamavam uns para os outros, dizendo: Santo, santo, santo é o SENHOR dos Exércitos; toda a terra está cheia da sua glória.” (Is 6:3)
Se é impossível para um cristão viver longe da comunhão dos santos (do Corpo de Cristo), é essencial que os irmãos se reúnam com o intento de cultuar a Deus como assembleia.
O culto público permeia todo o novo testamento, mostrando a importância da reunião para celebrar a Deus.
Além de edificarmos uns aos outros por meio do compartilhar da palavra, dos salmos, cânticos, hinos espirituais e de orarmos como corpo, a própria liturgia do culto nos ensina a respeito do evangelho e nos molda como servos e filho do Senhor.
- A adoração nos leva a reconhecer quem Deus é e a celebrar o seu nome por sua santidade, majestade e amor.
- A ceia nos lembra o quão pecadores e indignos somos, porém o amor e o sacrifício do Senhor nos convida a participarmos da sua mesa.
- A pregação nos ensina sobre a Palavra e o mandato de Deus, para sermos enviados de volta ao mundo apregoando a sua mensagem e trabalhando na missão do Senhor. A palavra termina com a benção e o envio.
- Em alguns cultos temos também o batismo, em que todo o corpo faz parte, relembrando do seu próprio novo nascimento e recebendo novos irmãos como parte integrante da comunidade.
O culto nunca é um programa de final de semana, mas uma reunião fundamental que alinhará nossos corações e atitudes ao Senhor para que possamos viver como filhos enviados pelo Pai.
Serviço
“Ora, se eu, sendo o Senhor e o Mestre, vos lavei os pés, também vós deveis lavar os pés uns dos outros. Porque eu vos dei o exemplo, para que, como eu vos fiz, façais vós também.” (Jo 13:14-15)
“Não é assim entre vós; pelo contrário, quem quiser tornar-se grande entre vós, será esse o que vos sirva; e quem quiser ser o primeiro entre vós será vosso servo; tal como o Filho do Homem, que não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos.” (Mt 20:26-28)
O próprio Cristo nos deu o exemplo de uma vida de serviço e humildade. O serviço deve ser algo natural para o cristão.
Seja na igreja, servindo o corpo e edificando os nossos irmão, seja onde estivermos, servindo nossa sociedade e o nosso próximo, resplandecendo o amor de Jesus.
O serviço pode ser uma grande porta para a propagação do evangelho.
Por meio do serviço, nos tornamos mais humildes e abrimos mão do nosso tempo para ajudar o outro, o que nos torna mais parecidos com Cristo e gera grande crescimento e maturidade espiritual no cristão.
Devemos servir como o nosso Senhor veio para servir.
Solitude
“Tomou-os e fê-los passar o ribeiro; fez passar tudo o que lhe pertencia, ficando ele só…” (Gn 32:23-24)
“Portanto, eis que eu a atrairei, e a levarei para o deserto, e lhe falarei ao coração.” (Os 2:14)
Embora seja tratada por muitos como sinônimo de solidão, a solitude é bastante diferente.
A solitude é um isolamento voluntário, é se desligar de todas as vozes do mundo, para colocar sua mente em ordem e compreender nossas atitudes, emoções e espiritualidade.
A solitude nos livra da dependência excessiva da vida emocional, do sentimentalismo superficial, das relações vazias e da busca incessante de fontes de prazer instantâneo.
É quando eliminamos os ruídos ao nosso redor para ouvir o som do nosso coração, e ajustar as suas batidas no ritmo do coração de Deus.
As escrituras nos mostram diversos momentos personagens que ficam sensíveis para ouvir a voz do Senhor, quando se retiram e ficam sozinhos. Temos vários exemplos:
- Moisés e a sarça ardente
- Jacó no Vale do Jaboque
- Elias no monte Horebe
- Jesus constantemente se retirava para ficar sozinho
Portanto, exercite a solitude, silencie as vozes ao seu redor e experimente estar mais sensível à voz do Espírito Santo de Deus.
Essas são algumas das principais disciplinas espirituais para o cristão, pelo menos as que considero mais importantes.
Você sentiu falta de alguma disciplina nesta lista? Qual disciplina para você é a mais indispensável? Não deixe de contar pra gente nos comentários!
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Que benção bom ensinamento dos meios de graça da palavra de Deus 🙌🙏
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